quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Das lavouras ao blues



Não há como escrever sobre o rock ´n´ roll sem também falar dos outros ritmos que o precederam e influenciaram. De suas raízes, das quais as mais profundas remontam ao fim do século XIX, do canto dos negros norte-americanos escravos, ao blues. E o surgimento deste estilo está diretamente ligado ao contexto social do E.U.A.

Os EUA do século XIX eram uma sociedade de economia essencialmente agrária que vivia um momento de crescimento populacional, graças as imigrações, principalmente de camponeses e artesãos que saiam dos países europeus, devido às dificuldades de arrumar emprego, causados pela mecanização da produção. Este também foi um período de expansão territorial, em que os norte-americanos deixaram o sul e rumaram para o oeste em busca de novas terras que permitissem o aumento da produção agrícola e da pecuária.


As estradas de ferro facilitaram a conquista do Oeste

A mão-de-obra era formada em sua maioria por trabalhadores livres, mas o trabalho compulsório também foi significativo nesta história. Os primeiros escravos africanos chegaram aos EUA no século XVII e rapidamente substituíram os imigrantes europeus que trabalhavam em sistema de servidão. A prática escravista norte-americana era muito semelhante à da Espanha e Portugal. Os escravos eram privados de todos os seus direitos e viviam apenas para o trabalho árduo nas lavouras, principalmente as de algodão e tabaco. Para os senhores eram tidos como “bens” valiosos, pois, a quantidade indicava o poder econômico e status dos proprietários.

Plantação de algodão em West Point, Mississipi (1908)

Vivendo apenas para trabalhar, sendo cruelmente castigados e sofrendo preconceitos impostos pela sociedade, os negros buscaram criar o movimento de resistência a partir de elementos culturais que remetessem às suas origens, na África. Diferente do Brasil, em que os escravos entoavam suas músicas embaladas pela batidas dos batuques, nos EUA eram proibidos até mesmo de fabricar e tocar os próprios instrumentos, restando, então, apenas o seu grito, a sua voz, para expressarem seus sentimentos, suas tradições.

Prison songs, gravado por Alan Lomax em 1947. Um exemplo de work-songs


Como não tinham momentos de lazer, as músicas eram cantadas no único momento de vivência coletiva: as lavouras. Eram cantadas em coro, para cadenciar o ritmo do trabalho ou simplesmente para tornar a tarefa menos árdua e ficaram conhecidas como field hollers ou work-songs, sendo cantadas inclusive pelos feitores de acordo com as tarefas (batidas de ferramentas, carregamento de cargas, etc).

Historiadores apontam que as origens dos cantores de blues remontam aos Griots, que eram músicos, contadores de histórias africanas e que, por meio de sua voz, exerciam um papel religioso nas tribos. Assim, tem origem o Spiritual, que são as canções criadas a partir das histórias bíblicas pelos negros evangelizados.

Criado nas lavouras ou nas manifestações religiosas? Essa é a divergência que existe quando o assunto é definir a origem do blues. Creio que não chegaremos a um consenso aqui, e o que para nós realmente importa saber é que o blues não é simplesmente música. É o sentimento de um povo oprimido, história, saudade, protesto, lamento e também alegria. 

Por enquanto, é só.

No próximo post falaremos um pouco mais sobre como o blues deixa as lavouras para se tornar o pai do rock ´n´ roll... Até lá fiquem com She Knows How to Stretch it, de Pink Anderson, um dos bluesmen inspiradores do Pink Floyd (mas esta é uma outra história!)





Referências

PINHEIRO, Marcos Sorrilha; MACIEL, Fred.  Blues: Manifestação e inserção sociocultural do negro no início do século XX . Dossiê História Atlântica e da Diáspora Africana. Volume 8, número 12, dezembro de 2011.


Blues, o pai do rock. Fonzar, Mirela. - http://bestyle.com.br/cult/2012/5/blues-o-pai-do-rock

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